terça-feira, 5 de abril de 2016

A dor de ser psicóloga II

Quer dizer que psicólogo também perde a paciência? Perde o sono? Perde o apetite? Come demais pra compensar uma tristeza? Etc…
Sim! Tudo isso é verdade e um pouco mais. Porque quando você se depara com a fragilidade da essência humana, após o sujeito criar uma muralha para escondê-la, isso te toca e mexe contigo. Mas psicólogo não deveria saber separar as coisas e ser neutro, não deixar, por exemplo, que o outro o perturbe a ponto de ter que escrever para desabafar? Bem, não somos robôs, somos humanos. É verdade que aprendemos a manter a “suposta” neutralidade e ser imparcial, não sofrer com o problema do outro, mas antes de tudo a pessoa se apresenta antes da profissão.
Você se vê em muitos casos, num dilema moral e em outros lutando pela garantia dos direitos humanos. 
Saber que uma mãe é negligente e maltrata seus filhos, chega a revoltar. Mas quando se apropria da história de vida dessa pessoa, pode acontecer de perceber que durante toda a vida ela sofreu, foi negligenciada e maltratada e não sabe como quebrar esse círculo vicioso - a única forma que conhece é a morte. Isso te faz pensar. Ainda mais quando essa mãe está ameaçada de morte e apenas deseja que mantenham os filhos a salvo (reação que causaria surpresa, pois enquanto genitora sempre manteve uma postura negligente) e ela poderia morrer. Quantos direitos foram negados a essa pessoa, quanto direitos lhe foram roubados…
Conviver com o sofrimento emocional, desafios a própria segurança pessoal, presenciar violência institucional, receber cobranças para uma resolutiva rápida de um caso complexo… Coisas que acabam testando a sanidade mental.
Mas sabe de uma coisa?! É difícil, penoso, trabalhoso, mas ao mesmo tempo prazeroso porque de alguma forma, acabamos fazendo a outra pessoa pensar, nem que seja alguns segundos no que falamos e trabalhamos. E isso já é um passo pra mudança.
Que eu consiga prosseguir e transformar, o mínimo que seja, a vida das pessoas que passam pela minha vida.

3 comentários:

  1. Mais uma vez um lindo texto. Parabéns. Profissões iguais a sua deveriam ser mais valorizadas.

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    1. Partilhando um pouco do ofício para desmitificar a profissão

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  2. Você é fantástica, não haja dúvida.

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