quarta-feira, 2 de março de 2016

A dor de ser psicóloga

Sentir dor é algo inerente ao ser humano, seja ela física, moral ou psicológica. Das três, em minha
opinião, a que causa maior estrago é a dor psicológica. Não, não digo isso apenas porque sou psicóloga, não, não mesmo. Tenho a ciência e sou habilitada a cuidar dessa dor, mas sei que ela é dilacerante porque, como humana também já sofri dores psicológicas e entendo perfeitamente o quanto esse tipo de dor te paralisa.
A dor psicológica faz com que se sofra independentemente de quanto tempo já tenha passado desde o fato que a desencadeou e do que digam sobre ela. A dor, o sofrimento psíquico se instalam no tempo psicológico que é diferente do tempo cronológico. Dessa forma, falar sobre ela após anos pode ser tão doloroso como foi quando ela se instaurou se ainda não se conseguiu eliminá-la.
Diante da dor muitos soldados caem, mas com medicamentos ela é cessada. Para mim, a forma de cessar a dor psicológica é através da fala. É um processo longo e sofrido se livrar dessa dor psicológica, mas enquanto não se enfrenta seus fantasmas, seus traumas não há cura. Os medicamentos nesse caso ajudam um pouco, mas se se acostumou com o sofrimento, largá-lo é uma difícil tarefa, pois as pessoas passam a acreditar que merecem sofrer.
A pior parte do trabalho de ser psicóloga é quando ocorre uma coisa chamada contratransferência. A contratransferência é um conceito da teoria psicanalítica que reflete as emoções que o terapeuta experimenta no decorrer de uma análise, em relação ao paciente, e que são relacionadas com circunstâncias sentidas na sua própria vida, que o afetaram consciente e inconscientemente. Entender esse fenômeno que é a contratransferência e não se deixar afetar a ponto de comprometer a psicoterapia é um árduo trabalho, por isso nós também precisamos de apoio psicológico.
E a dor pior que já experimentei é me deparar com uma pessoa em intenso sofrimento psíquico e não poder fazer muito por ela. Sinto-me como um paliativo, como um placebo (medicações falsas). Dói saber que o outro sofre, dói sentir a dor do outro, dói não poder fazer algo mágico que faça a dor do outro desaparecer num piscar de olhos. Mas essa foi a profissão que escolhi, afetar e ser afetada pelas pessoas e no meio dessa afetação transformar vidas e me refazer a cada contato com o humano. '

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